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Criolo Doido - Entrevista:


A fala do MC Criolo Doido tem seu ritmo pontuado por pausas dramáticas e interpretações nas alturas e intensidades. Isso, mais o uso desbragado de linguagem corporal em suas explicações cheias de parábolas e certezas, dão a sensação de que o Criolo não subestima seu interlocutor. “Sim, é isso, estou aqui representando o personagem Criolo Doido, é o que tem pra hoje”, ele parece sinalizar o tempo todo. Ainda que interpretando, ele não poderia ser mais franco: o personagem que criou, um filósofo, é também a maneira que Kleber Gomes encontrou para lidar com a vida e as coisas do mundo.


Prestes a lançar um DVD ao vivo, ele concorre ao Hutúz e também é o protagonista do recém-lançado Profissão MC, filme dirigido por Alessandro Buzo, escritor “suburbano convicto” e apresentador do quadro “Buzão” no programa Manos e Minas da TV Cultura, e por Toni Nogueira, que apresenta o quadro “Domingão Aventura” no Domingão do Faustão. Criolo é um MC habilidoso: suas músicas parecem ser escritas a partir das levadas criadas à rap bate-cabeça, e seu senso de humor é ímpar, como sabem todos os que já o viram apresentando a Rinha dos MCs, evento semanal que começou em parceria com o DJ Dandan – hoje o DJ Marco e Kiko, do Pentágono, também se responsabilizam pela organização. É uma noite com discotecagem só em vinil e microfone aberto para batalhas de freestyle, nas quais o público decide os ganhadores. Um espaço de criação musical único na cidade.

Porque você resolveu fazer um DVD?

Um dia eu tava chateado com umas coisas na Rinha e falei “pode colocar aí, gravação do DVD do Criolo Doido, quero ver se o negócio vai estourar ou não vai”.

No microfone?

Não, entre a gente mesmo, depois do evento. Aí o DJ Marco – a gente tava começando a trabalhar junto, isso foi ano passado, ele não conhecia esse meu jeito meio maluco de ser – colocou no flyer na outra semana! Aí eu conheci a Vivi [Rocha, diretora do DVD] e ela disse que daria uma força. Quando fomos ver, tinha quase vinte profissionais envolvidos. Tá muito bonita a parada, parte técnica de alto nível. A gente tá correndo pra sair este ano ainda. Fatalmente será independente, mas, se tiver alguma proposta em que o DVD saia a um preço justo, a gente pode conversar. A grande ideia é que o máximo de pessoas veja esse trabalho, porque não é só um registro de músicas, é um registro de sentimentos. E esses sentimentos podem modificar alguma coisa. As músicas são apenas um detalhe dentro de toda essa história. O grande lance é o teu olhar, o porquê de você estar fazendo a música – e aí as coisas vão acontecendo.

"A gente jamais imaginou que ia chegar aonde chegou. É muito louco isso: a partir do momento em que você divide uma ideia, ela não é mais sua, e as pessoas vão se sensibilizando. Ninguém consegue fazer nada sozinho, então a Rinha, hoje, é da cidade de São Paulo, é um patrimônio. Lá é o único lugar onde o cara que ainda não tá muito firme na cena pode cantar."

Foi tudo gravado no Executivo, na Rinha?

Tudo gravado no Executivo Bar, um antigo puteiro que tá sendo re-significado. Às sextas-feiras é o encontro de uma massa humana: jovens, adolescentes e o pessoal das antigas que gosta de música boa. A gente transformou esse lugar. Você pode escutar boa música, rever amigos e fazer novos amigos – a proposta da festa e do encontro cultural que é a Rinha dos MCs sempre foi essa. E acontece lá, na Sete de Abril (rua no centro de São Paulo), abaixo do nível da terra e... (risos) estamos com a sétima chave da sétima porta do umbral.

Como começou?

A Rinha surgiu da necessidade de uma festa em que a gente pudesse escutar as músicas que queríamos. A gente tinha saudade dos anos 90, e pouquíssimos DJs estavam saciando nossa sede de música. Era a necessidade de um espaço para discutir nossas músicas e onde a rapaziada – no começo a da Zona Sul, porque a Rinha nasceu no Grajaú e no Iporanga – se encontrasse e cantasse suas músicas, mostrasse fotografias, esculturas. A gente jamais imaginou que ia chegar aonde chegou. É muito louco isso: a partir do momento em que você divide uma ideia, ela não é mais sua, e as pessoas vão se sensibilizando. Ninguém consegue fazer nada sozinho, então a Rinha, hoje, é da cidade de São Paulo, é um patrimônio. Lá é o único lugar onde o cara que ainda não tá muito firme na cena pode cantar. E imprime pressão nele. Não é um lugar onde o cara sai tipo “cantei por cantar”, ele sabe que tem uma pressão positiva ali. Ele vai pra lá assim: “tem muita gente aqui que manja muito, então vamos ver se é isso mesmo – da parte deles e da minha também”. O que acontece lá é uma avaliação de quatro ou cinco situações ao mesmo tempo.

Quando começou?

Em 2006, na Robert Kennedy. Foi em seis lugares diferentes, todos na Zona Sul de São Paulo. Agora tá há um ano no Executivo.

Você só tem um disco e já é conhecido – indicado ao Hutúz e tudo mais. Como surgiu o disco?

Muitos parceiros cederam as instrumentais, ninguém me cobrou nada. Muita gente me ajudou: o W-Jay do SNJ, o Slim Rimografia, o Apolo do Pentágono, o Raul do Iporanga. Eu demorei dois anos, e depois de pronto demorei um ano pra pôr na rua. Agora tem um rapaz de uma empresa que ficou interessado em algumas músicas e vamos ver o que acontece. Ele tinha pensado num single da música “Vasilhame”, mas agora escutou os outros sons e tá pensando num EP virtual.

Eu ouvi uma versão demo de “Grajaúex”. Você vai gravar essa?

Eu pretendo, tem muita música nova. A gente tem que equacionar falta de grana e qualidade técnica, então demora um pouco.

Mas você pretende lançar fisicamente também?

Sim, a gente não pode se iludir com isso. Muitas pessoas ainda têm videocassete. Muitas casas não têm nem luz! Se a gente for parar pra pensar, o Haiti é aqui com todas as forças. Inclusive as Forças Armadas (risos).

Recentemente o hip-hop ganhou mais espaço na mídia de novo. Isso é verdade ou não?

Era inimaginável cinco anos atrás ter um programa como o Manos e Minas na TV aberta. Acho que isso mostra o poder de consumo do nosso povo e da música negra. Não é só o afoxé, o samba, que são coisas maravilhosas, mas também essa outra parte que tem o rap e o reggae. Já, já, vai ter um programa de reggae na TV aberta. Tem muito grupo, muita gente, muito show. Perceberam que os barrigudinhos têm poder de consumo. Tudo tem um custo, e agora tem uns patronos, mas tudo é transitório. Os amores, os cortes de cabelo e até o estilo musical podem ser – não é porque tá na TV que é pra sempre. As coisas têm que ter história – o que é eterno você vai guardar na sua biblioteca de coisas boas.

"A gente não pode se iludir. Muitas pessoas ainda têm videocassete. Muitas casas não têm nem luz! Se a gente for parar pra pensar, o Haiti é aqui com todas as forças. Inclusive as Forças Armadas (risos)."


E como você escreve?

Tomado por muita emoção, cara. Tomado por muita indagação, por muita vontade de mudança minha, interna. Porque, se eu não estiver disposto a enxergar tanta coisa errada que tenho dentro de mim, o que eu vou querer mudar? Comecei com 12 anos de idade. Um colega de escola tava preocupado em não passar de ano e fez uma rima dizendo que ia pegar o pergaminho dele. Foi a primeira vez que vi um cara fazendo uma rima, e era uma baita de uma analogia, ainda por cima.Tinha o programa Metro Tech na rádio Metropolitana. Acho que era do Armando Martins – meu Deus, será que alguém vai me bater de eu estar falando errado? (risos) Quando fui ver tinha uma multidão de gente de várias outras quebradas fazendo isso também.

O hip-hop no Brasil já passou por várias fases. Você acha que isso tem a ver com o quê? Com a produção dos grupos? Com a postura?

A gente pode pensar no rap – ou em qualquer outra coisa, na verdade – da seguinte forma: quando você tem um terreno muito grande e constrói uma cidade sem nenhum projeto de urbanização, ela vai crescer de um jeito. Se planejar, vai crescer de outro jeito. Mas também não podemos jogar toda a culpa em quem tava na linha de frente cantando esse rap. Era uma estética nova que trazia consigo um monte de auto-estima. A gente tinha que se firmar naquele momento, era importante falar daquilo, bater de frente com alguns temas. A gente tava vivendo aquilo, de verdade, dia a dia. Se tivesse uma ou duas pessoas dessas que fazem mega eventos e mega situações vendo o rap nascendo ali com a noção de quanto ia crescer no nosso país, isso talvez tivesse sido diferente. Teve muito guerreiro que gritou muito forte, mas não teve como ser ouvido. É tudo planejamento. Mas não dá pra planejar algo novo, a gente tá num processo ainda. É tudo muito novo, e a dinâmica do ser humano mudou muito. Antigamente uma pessoa podia ficar o dia inteiro discutindo temas filosóficos. Hoje a gente não pode – e não quer! Demorava três meses pra uma fita minha chegar num outro bairro, a gente achava o máximo um cara de outro bairro vir cantar na nossa escola. Hoje tem tudo a um clique, e cabe a você ver o que tá exacerbado e o que tá faltando. Mas o rap é um diamante que brilha muito, e as pessoas não tão sabendo encontrar o ângulo dele com o brilho mais perfeito. É que a gente valoriza a individualidade, mas nunca aceita a individualidade do outro.

Saiba mais:
www.myspace.com/criolomc

www.twitter.com/criolomc

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