“Ô zica, a fita é a seguinte: entra na praça à direita, depois pega a primeira à esquerda e, por último, à direita de novo. Tem de fazer um ‘Z’. Vamos decidir a parada hoje. Qualquer coisa, me liga.” O roteiro chega pelo celular. É noite abafada, começo de novembro, quando deixo a porta da Escola de Samba Pérola Negra, na Vila Madalena, em São Paulo, reduto contemporâneo da boemia paulistana, rumo a um bairro vizinho. Da outra ponta da linha chega mais uma senha: “É pique rua de periferia, tem casinhas humildes”. Nos quase dez minutos para percorrer as ruas da área oeste de São Paulo, um flashback: a conversa cara a cara prestes a começar, na verdade, era o desfecho de um debate iniciado três anos antes. Ao apontar na “rua estilo periferia”, encravada no bairro classe média, ninguém à espera. Chamo ao telefone e, em segundos, percebo pelo retrovisor surgir alguém vestido com uma camisa Adidas vermelha da seleção da Turquia, nº 17 às costas, calça jeans e tênis Nike. Sorrisão na cara