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Eminencia Parda


“Ô zica, a fita é a seguinte: entra na praça à direita, depois pega a primeira à esquerda e, por último, à direita de novo. Tem de fazer um ‘Z’. Vamos decidir a parada hoje. Qualquer coisa, me liga.” O roteiro chega pelo celular. É noite abafada, começo de novembro, quando deixo a porta da Escola de Samba Pérola Negra, na Vila Madalena, em São Paulo, reduto contemporâneo da boemia paulistana, rumo a um bairro vizinho. Da outra ponta da linha chega mais uma senha: “É pique rua de periferia, tem casinhas humildes”. Nos quase dez minutos para percorrer as ruas da área oeste de São Paulo, um flashback: a conversa cara a cara prestes a começar, na verdade, era o desfecho de um debate iniciado três anos antes.

Ao apontar na “rua estilo periferia”, encravada no bairro classe média, ninguém à espera. Chamo ao telefone e, em segundos, percebo pelo retrovisor surgir alguém vestido com uma camisa Adidas vermelha da seleção da Turquia, nº 17 às costas, calça jeans e tênis Nike. Sorrisão na cara, cabelo raspado, com um risco à la Mike Tyson, o homem pardo à porta é Pedro Paulo Soares Pereira, um dos mais intrigantes e importantes artistas da música brasileira ao longo das últimas duas décadas, dono de versos cujos ecos estão impregnados em todo o Brasil. O aperto de mãos é acompanhado do cumprimento com origem no candomblé, ombro a ombro. Pedro Paulo convida para entrar na casa dos seus amigos, onde ouve um som.
A voz de Jorge, então somente Ben, domina o ambiente. Vem de um computador. Ele canta “Lorraine” acompanhado de Tim Maia na gravação de um show em 1981. Pedro Paulo vibra, mas os acompanha discretamente. “Os dois são referências pra mim”, reverencia. Ele teve o sonho, mas não conseguiu gravar com Tim. Nem com Wilson Simonal, outro ídolo. Mas tem orgulho de já ter dividido o palco com Jorge. Quando a música para, rompo o breve silêncio para perguntar se ele está mesmo decidido a falar e a finalmente aparecer sozinho na capa da Rolling Stone. “É a hora! Tenho coisas para falar. Querem me ouvir, vou falar.”
Pedro Paulo se tornará quarentão em abril próximo. “Estou virando um tiozinho, mano.” Antes de bater nos quatro ponto zero, ele surpreenderá novamente quem o escuta desde 1988, quando tinha 18 anos e entrou nos ouvidos de muitos brasileiros – por amor ou por ódio – com suas rimas. Pedro Paulo é Mano Brown, a mais importante, influente e respeitada personalidade do rap brasileiro, o piloto dos Racionais MC’s, uma das vozes das periferias do país – posição rejeitada por ele, mesmo depois de ter guiado o único grupo nacional de rap capaz de vender 1,5 milhão de discos oficialmente no Brasil até hoje (sem contar outros cerca de quatro milhões na conta da pirataria). Mas aquele Mano Brown conhecido pelo Brasil “estava condenado a virar estátua, sem utilidade”, como ele mesmo diz, na sua autodefinição.
“O Racionais parece ter uma cartilha a seguir e não fomos nós que a escrevemos. Foi a opinião pública. Somos reféns das palavras, mas não posso ser refém de nada, nem do rap. Vamos quebrar. Aquele Mano Brown virou sistema viciado, uma estátua óbvia demais. Pergunta tal coisa que ele vai responder tal coisa. Eu estava mapeado e rastreado”, constata. Para registrar parte desta nova fase, foram quatro encontros e cerca de 15 horas de conversas mantidas ao longo de 11 dias do mês de novembro último, incluindo uma sessão de fotos – colada em uma outra sessão para ouvir algumas das novas músicas, ainda inéditas. Neste bonde estão o músico com formação clássica e compositor William Magalhães, filho do lendário Oberdan Magalhães, alma da fábrica de samba-soul-funk Banda Black Rio, e o rapper Marcos Dias Carneiro, o Dom Pixote, a quem Brown vez ou outra chama de Fiote. Antes de ter sido assassinado em alguma rua da Babilônia paulistana, o irmão mais velho de Dom Pixote o ensinou a ouvir Racionais. Para Brown, o talento de Pixote no rap é a vingança do irmão de sangue.
Cinco dias após o encontro no lado oeste, Mano Brown chega à casa da veterana fotógrafa inglesa naturalizada brasileira Maureen Bisilliat, no coração dos Jardins, bairro elitizado paulistano. Está a bordo de um Audi A3 preto. No bolso, uma onipresente escova de dentes.
Ele e a dona da casa se admiram. “Ela tem uma mente mil grau”, diz. Sempre quando atraca por lá, faz questão de já saltar do carro e ir direto apertar as mãos dos trabalhadores da rua, os manobristas, os seguranças, os porteiros. “Gente que serve os bacanas” e gosta de sua música e de seu jeito.
Na cadeira de balanço da sala repleta de fotografias e peças de arte do Xingu, o rapper tenta organizar os pensamentos, milhares e difusos. “Tenho tanta coisa para falar, meu Deus do céu.” Está de regata branca, tatuagens à mostra. Do antebraço esquerdo salta um mapa do continente africano. Do braço direito, uma cruz onde se lê “Provérbios 15-16-17″. Ele já foi do candomblé e frequentou igrejas evangélicas. Hoje, diz não ter mais credo. Levanta, vai até o cinzeiro, apaga o cigarro. “Sou contra a religião. Porque virou empresa. Deus está nas pequenas coisas.” A cruz na pele é a mesma estampada na capa do disco Sobrevivendo no Inferno, marco de 1998.

Você confere mais fotos e lê esta matéria na íntegra na edição 39, dezembro/2009

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