Dadas as condições de amparo social para jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, não é de se espantar que essas pessoas continuem procurando abrigo em baixo de pontes, varandas e viadutos.
Há muito tempo venho procurando meios de abordar o assunto da segurança pública, o pouco caso, o comodismo e a falta de organização são uma constante quando abordamos esta pauta, mesmo que sempre tenhamos uma opinião contundente e embasada em fatos, muitas vezes vivenciados por nós, penso que podemos e devemos fazer muito mais.
Quando decidi redigir este texto também fui motivado por uma ocorrência bem recente acontecida na Batalha do Mercado. Este encontro que acontece um sábado por mês desde de Dezembro de 2011, reunindo jovens de todos os cantos da cidade e região metropolitana para batalhas de free style sem auxílio de batidas eletrônicas, em frente ao mercado público de Porto Alegre no largo Glênio Peres. Ao iniciarem o encontro todos que ali se estavam foram alvo de uma ação da Brigada Militar, que colocou mais de vinte jovens num grande “atraque” ou “paredão”. Contudo continua forte a mobilização da Batalha e o evento segue resistindo.
O mesmo largo que hoje ostenta milhares de logotipos de uma marca multinacional, foi palco de mais um caso vergonhoso, que repercutiu mundo afora.
Uma manifestação ocorrida em frente à Prefeitura, que reuniu cerca de 400 pessoas
em uma manifestação chamada ”defesa publica da alegria” que repudiava a
repressão policial sofrida por diversos jovens um dia antes por terem esvaziado um
boneco inflável com formato da mascote da copa de 2014 com um logo de uma
grande empresa, os manifestantes foram agredidos pela tropa de choque da BM,
tudo registrado pelas câmeras de celulares e jogado nas redes sociais. NADA
justifica a ação e a força empregada contra os que se faziam presentes. Muitos
jovens saíram feridos.
A presença do tatu-bola no Largo Glênio Peres faz parte de estratégia de
marketing de uma das patrocinadoras oficiais da Copa do Mundo no Brasil. Algumas
cidades-sedes do Mundial (como Recife e Brasília) ganharam um modelo do boneco
gigante, como se estivesse dentro de uma toca. É inaceitável os poderes delegados
as instituições privadas.
Outro exemplo é Auditório Araújo Viana, um espaço cultural de Porto Alegre,
localizado no Parque Farroupilha, um símbolo de uma época de grades festivais na
cidade, esse patrimônio público também ganhou as cores e os logotipos de uma
empresa privada e o famoso gramado em forma de barranco hoje é totalmente
cercado por grades que impedem a aproximação de transeuntes ou quem queira
aproveitar o local para relaxar.
Não podemos esquecer do bairro Cidade Baixa, outro caso relevante dentro
do tema. Local de alegria, encontros, cultura, arte, musica, enfim boa parte da
boêmia que acontece no coração de Porto Alegre está sitiada por conta da violenta
repressão empregada pelas autoridades. Recordo-me bem da multidão que
circulava por ali, todas as tribos num só lugar, respeitando os espaços e fazendo
pulsar o sangue deste bairro. As casas noturnas com preços populares foram
fechadas, os jovens intimidados com a hostilidade das patrulhas policiais, e já não
se vê mais a roda de free style nas esquinas. Onde havia vida hoje existe um
silêncio perturbador.
Enquanto aguardamos, continuamos no nosso trabalho de prevenção
utilizando os quatro elementos da cultura Hip-Hop somado ao 5º elemento o
conhecimento, para elevar mentes, fortificar o espírito ganhar corações e resgatar
almas.