Se estivesse vivo, Sebastião Rodrigues Maia completaria 70 anos neste 28 de setembro. Um dos nomes mais importantes da música brasileira de todos os tempos, Tim Maia, como ficou conhecido, modernizou a música negra no Brasil numa época onde ela ainda era fortemente associada ao samba e suas variações. Precursor do soul e do funk no Brasil, adotou esses estilos com propriedade, transformando-os em algo unicamente brasileiro e influenciando artistas até hoje.
Em entrevista exclusiva para o UOL, seu filho Léo Maia comentou sobre a carreira do pai e sua contribuição para a música. “Quando ele surgiu não existia um cenário black. Meu pai propôs algo totalmente novo, um novo tipo de melodia, de harmonia. Tanto que foi uma ruptura no país quando o som dele bateu de verdade”, conta ele.
- Tim Maia durante o início da carreira, em 1970
Em 1959 Tim Maia embarcaria sozinho para os EUA, aos 17 anos de idade, onde permaneceria por quatro anos. “Ele viu toda a efervescência e o nascimento da cultura black lá”. Nos EUA Tim formou a banda The Ideals, que gravou um compacto, “Yes I Love”. Segundo Léo, Tim havia sugerido que o baterista incorporasse uma levada de bossa nova nas gravações, que teria ficado receoso. “Meu pai disse ‘como é negão, qual é pô, vamos fazer um som, levar pra frente essa porra’. Aí o cara relaxou e fez a gravação”, brinca ele. Após quatro anos, Tim Maia acabou sendo deportado de volta para o Brasil por posse de maconha, crime considerado grave na época. “Por nada, como dizia ele, por causa de um baseadinho”, explica Léo.
- O cantor em apresentação da época em que aderiu à seita Universo em Desencanto
No meio dos anos 70 Tim entrou para a seita Universo em Desencanto e gravou dois discos considerados clássicos da soul music mundial. Por causa do seu rompimento com os integrantes do culto, os discos ficariam fora de catálogo por décadas até serem relançados em CD pela gravadora Trama a partir de 2006. “Na verdade ele execrou esses discos, até queimou os tapes. Não sei quem achou isso, nem onde, o material estava perdido. Para ele, esse disco deveria ser relançado”. Segundo Léo, os discos hoje em dia são cultuados até em Israel, onde são bastante tocados por DJs de black music.
- Tim Maia durante show em casa noturna carioca em 1982
Se a relação de Tim com figurões e celebridades não era das mais fáceis, o artista tinha verdadeira veneração por sua plateia. “Vi tantas vezes meu pai separar em sua agenda um espaço para fazer um show de graça, do tipo ‘paga a banda, me dá um negócio aí e convida 2 meninas’”. Segundo ele, uma apresentação assim seria a melhor homenagem que seu pai poderia querer. “Tenho certeza absoluta que meu pai amaria que organizassem algo de graça para o povão, principalmente em São Paulo, que ele tanto amava. E gostaria também de ver os amigos dele indo lá e cantando uma música para ele”, diz.
Veja fotos de diferentes momentos da carreira do "soulman" Tim Maia
Foto 12 de 23 - Tim Maia, cantor e compositor carioca, criador da soul music e do funk no Brasil, posa para foto Homero Sérgio/Folhapress
Confira as 10 músicas favoritas de Léo Maia gravadas por seu pai:
É um forró-soul, mas na época não existia isso. É uma das quatro canções que ele gravou do Cassiano, que deu a ideia de trazer essa onda nordestina para o som. Nesse período não se usava sanfona, que em geral é um instrumento execrado pelo mundo pop, e meu pai fez do jeito dele. Não só gravou, mas botou pra tocar no rádio e com isso se aproximou da cultura nordestina, foi muito respeitado e amado pelo povo nordestino por essa coragem. Meu filho mais novo, que tem nove meses, se chama Antônio Bento em homenagem à canção e ao meu pai.Praticamente coincidindo com o aniversário de 70 anos do primeiro ‘soulman’ brasileiro, a gravadora Luaka Bop, de propriedade do ex-Talking Heads David Byrne, está lançando no dia 2 de outubro nos EUA a coletânea “Nobody Can Live Forever – The Existential Soul Of Tim Maia”. O disco faz parte da série “World Psychedelic Classics”, que já havia lançado uma coletânea dos Mutantes. A gravadora é especializada em world music e já ajudou a difundir outros nomes importantes da música brasileira nos EUA, como Tom Zé.
- Imunização Racional (Que Beleza), do disco “Tim Maia Racional Vol 1”, 1975 (ouça aqui)
- Rational Culture, de “Tim Maia Racional Vol 1”, 1975 (ouça aqui)
- Bom Senso, de “Tim Maia Racional Vol 1, 1975 (ouça aqui)
Uma canção que ele fez em homenagem a mim e ao meu irmão. A canção fala por si só. No meio dela existe meio que uma profecia, ela fala “O Márcio Leonardo veio para a Seroma”, que é o nome do lugar onde ele ensaiava. “Seroma” significa “amores” ao contrário, e também é o nome da editora do meu pai.
Ele fez essa música porque minha mãe dizia que ele tinha que trabalhar. Eu e meu irmão precisando de leite, essas paradas todas, e meu pai estava meio devagar. Então ela ficava enchendo o saco que ele tinha que arrumar trabalho. Aí ele disse; “Pô Geisa, dá um tempo com esse papo de emprego”.
- Jhony, de “Tim Maia Disco Club”, 1978
Gosto muito também da fase Michael Sullivan, foi muito legal. Eu me lembro do dia que meu pai resolveu fazer essa música. Era um domingão, ele estava de bobeira assistindo televisão e o apareceu o Zé Augusto cantando, só tinha música romântica. Meu pai falou assim: “Quer dizer que o momento agora é só de música romântica, então beleza, eu vou gravar um disco assim”. Acabou o programa, ele pegou o telefone e falou: “Michael Sullivan, você tem umas músicas aí? Eu quero gravar um disco romântico”. Eu sei que depois ele veio com esse puta disco.
Meu pai tinha acabado de se mudar para a Barra da Tijuca e estava morando de frente para o mar. Ele ficou amarradão por causa disso, ele já estava nessa fase de mar, de curtir a praia.
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FONTE: http://musica.uol.com.br/